As
toneladas de bombas com urânio empobrecido lançadas pela NATO
no Kosovo e na Sérvia em 1999 já mataram soldados de Itália,
Espanha e Bélgica. Em Portugal,
depois de uma primeira recusa, o Ministério da Defesa decidiu fazer
rastreios a todos os militares que estiveram em missão naquele território
da Jugoslávia. Importa neste momento relembrar que os senhores da
NATO, os tais que desencadearam a guerra contra Belgrado por motivos morais,
tentaram sempre esconder a utilização
daquele tipo de bombas não só da opinião pública
como dos próprios aliados que enviaram contingentes para o Kosovo.
O primeiro grupo de soldados portugueses, por exemplo, foi enviado para
uma das zonas mais atingidas sem que as autoridades de Lisboa fossem informadas
dos perigos que corriam. A NATO e os seus
responsáveis de então, nomeadamente o seu secretário-geral
Javier Solana, terão necessariamente de responder por esses crimes.
Espera-se, por isso, que o sempre obediente Tribunal Penal Internacional
emita mandados de captura contra esses senhores e os prenda em Haia até
ao seu julgamento. A justiça, mesmo
a que serve os interesses dos EUA e dos seus aliados, deve, ao menos uma
vez na vida, tentar ser imparcial e afastar a ideia de que se trata apenas
de mais um tribunal político de má memória.
Por cá, entretanto, seria bom ouvir qualquer palavra dos responsáveis políticos que tomaram a decisão de não só participar na guerra do Kosovo como no atoleiro radioactivo posterior a que pomposamente chamaram "missão de paz". Não basta mandar fazer exames médicos aos 900 soldados enviados para os Balcãs. É preciso algo mais. Sabe-se que o Presidente da República anda empenhado numa empolgante campanha eleitoral. Sabe-se também que o primeiro-ministro anda ocupado com assuntos do PS e do Governo. Mas nada justifica o silêncio. A não ser o reconhecimento oficial de que foram cúmplices de um crime sem nome.
Antonio Ribeiro Ferreira