Diario de Noticias, 30 de Dezembro de 2000
Contaminação com urânio pode provocar cancro
Perito estima que dez mil pessoas podem morrer
http://www.dn.pt/dn1/pna/30p4c.htm
Graça Henriques

 "Os elevados níveis de urânio empobrecido utilizados nos bombardeamentos da NATO são motivo mais do que suficiente para se fazer uma análise exaustiva do risco de contaminação das pessoas." Quem o afirma é o chefe da missão que o Governo vai enviar ao Kosovo, a partir de 8 de Janeiro, para medir os níveis de radioactividade nas zonas onde estão estacionados soldados portugueses. Fernando Carvalho recusa, para já, estabelecer uma causa directa entre as radiações e a morte dos militares, mas admite que "hipoteticamente" pode haver existir essa relação. "É preciso tirar tudo a limpo", afirma.

 Mais preocupante que a exposição externa às radiações, disse ao DN o técnico do Instituto Tecnológico Nuclear (ITN), é a contaminação interna. Conforme explicou, o urânio empobrecido volatiliza-se em partículas radioactivas na atmosfera, que podem ser ingeridas através da água e dos alimentos. O resultado são, consoante as doses inaladas, danos biológicos gravíssimos, que podem conduzir à morte: tumores cancerígenos no esqueleto, aparelho digestivo e pulmões.

 Por isso mesmo, a missão, constituída por três elementos do ITN e dois do Exército, vai medir não só os níveis de radiação no local com equipamento portátil, bem como recolher amostras de solos, alimentos e água. Estas serão analisadas nos laboratórios de Sacavém e os resultados só serão conhecidos dentro de semanas.

 Outros especialistas têm revelado as suas opiniões sobre esta matéria. E as afirmações são, no mínimo, preocupantes. Senão, vejamos o que diz Roger Coghill, biólogo britânico, citado pela revista The Bulletin of the Atomic Scientist: "Pensamos que em resultado da utilização de urânio empobrecido pelas forças da NATO, cerca de dez mil pessoas irão morrer de cancro".

 John Catalinotto, especialista nos efeitos do urânio empobrecido, referiu à TSF que todos países conheciam os riscos da missão. E que, por isso, devem ser responsabilizados.