Diario de Noticias, 30 de Dezembro de 2000
As contradições do Exército
No relatório da autópsia a data da morte de Hugo Paulino aparece errada. Pai do militar revelou documentos com dados completamente opostos
http://www.dn.pt/dn1/pna/30p4b.htm
Graça Henriques

 Contradições e mais contradições. Assim se pode classificar a actuação do Exército no caso da morte do 1.º cabo Hugo Paulino. Os documentos revelados ontem pelo pai do militar falecido depois de ter cumprido uma missão no Kosovo não têm o mesmo fio condutor. O relatório da autópsia refere como causa do óbito uma encefalite viral, sem qualquer referência a contaminação por urânio empobrecido, mas outro documento admite que a doença foi "adquirida em serviço". Até a data da morte está errada - o jovem faleceu a 9 e não a 8 de Março, conforme refere autópsia.

 No mesmo envelope em que Luís Paulino recebeu o relatório seguia também uma informação clínica, sem ser timbrada, datada de 12 de Abril último, onde se pode ler que estão a decorrer estudos mais pormenorizados para determinar a causa da doença, mas que é possível afirmar que "não pode ser estabelecido qualquer relação de causalidade entre a doença e o serviço militar, nomeadamente com a missão do Kosovo".

 Mas Luís Paulino já tinha recebido um ofício, com data de 20 de Novembro, em que o comando das tropas aerotransportadas "qualifica a doença que vitimou o 1.º cabo Hugo Paulino, como adquirida em serviço e por motivo do seu desempenho".

 Por todas estas razões, o pai do militar não aceita o relatório da autópsia e está convencido que o seu filho foi contaminado no Kosovo. Ontem anunciou que, para evitar uma segunda autópsia, vai primeiro exigir a história clínica diária de Hugo Paulino, durante o internamento no Hospital Militar de Lisboa. E pretende que seja avaliados por clínicos independentes.