Diario de Noticias, 30 dicembre
Silêncios cúmplices
http://www.dn.pt/dn1/home/fopi.htm


 As toneladas de bombas com urânio empobrecido lançadas pela NATO no Kosovo e na Sérvia em 1999 já mataram soldados de Itália, Espanha e Bélgica. Em Portugal, depois de uma primeira recusa, o Ministério da Defesa decidiu fazer rastreios a todos os militares que estiveram em missão naquele território da Jugoslávia. Importa neste momento relembrar que os senhores da NATO, os tais que desencadearam a guerra contra Belgrado por motivos morais, tentaram sempre esconder a utilização daquele tipo de bombas não só da opinião pública como dos próprios aliados que enviaram contingentes para o Kosovo. O primeiro grupo de soldados portugueses, por exemplo, foi enviado para uma das zonas mais atingidas sem que as autoridades de Lisboa fossem informadas dos perigos que corriam. A NATO e os seus responsáveis de então, nomeadamente o seu secretário-geral Javier Solana, terão necessariamente de responder por esses crimes. Espera-se, por isso, que o sempre obediente Tribunal Penal Internacional emita mandados de captura contra esses senhores e os prenda em Haia até ao seu julgamento. A justiça, mesmo a que serve os interesses dos EUA e dos seus aliados, deve, ao menos uma vez na vida, tentar ser imparcial e afastar a ideia de que se trata apenas de mais um tribunal político de má memória.

 Por cá, entretanto, seria bom ouvir qualquer palavra dos responsáveis políticos que tomaram a decisão de não só participar na guerra do Kosovo como no atoleiro radioactivo posterior a que pomposamente chamaram "missão de paz". Não basta mandar fazer exames médicos aos 900 soldados enviados para os Balcãs. É preciso algo mais. Sabe-se que o Presidente da República anda empenhado numa empolgante campanha eleitoral. Sabe-se também que o primeiro-ministro anda ocupado com assuntos do PS e do Governo. Mas nada justifica o silêncio. A não ser o reconhecimento oficial de que foram cúmplices de um crime sem nome.

Antonio Ribeiro Ferreira