31 de Dezembro de 2000
Diario de Noticias
(Prima Pagina)
NATO
Radiações afectaram soldados na Bósnia
http://www.dn.pt/pna/31p10a.htm

Às mortes de soldados em missão no Kosovo por suspeita de contaminação de urânio empobrecido, junta-se agora um soldado italiano que esteve em serviço na Bósnia, em 1995, e que morreu no final de Setembro. O "Giornale dei Carabinieri" não tem dúvidas de que o óbito de Rinaldo Colombo, resulta da exposição às radiações de urânio usado nos bombardeamentos da NATO

 Mais um militar a morrer de leucemia

 Soldado italiano esteve na Bósnia em 1995 e faleceu em Setembro. Embaixador da Jugoslávia responde a Martins Barrento

 O número de soldados mortos por suspeita de contaminação pelo urânio empobrecido continua a aumentar. Ontem, ficou a saber-se que um militar italiano, que integrou em 1995 a força de paz na Bósnia, morreu no final de Setembro vítima de leucemia.

 O Giornale dei Carabinieri não tem dúvidas em afirmar que o óbito de Rinaldo Colombo, de 31 anos, resulta da exposição às radiações de urânio empobrecido usado nos bombardeamentos da NATO. O mesmo utilizado pela NATO no Kosovo, em 1999.

 A morte de Rinaldo Colombo faz aumentar para cinco os óbitos de militares italianos depois de terem regressado dos Balcãs. Segundo a Imprensa italiana, outros quatro estão actualmente em observação e há suspeita de mais vinte casos.

 Na Alemanha, segundo a edição de hoje do diário Welt am os soldados que estiveram em serviço no Kosovo, susceptíveis de ter estado expostos a radiações de urânio empobrecido, estão a ser examinados pelo Exército. O jornal, que cita um porta-voz do Ministério da Defesa alemão, refere ainda que os exames médicos se iniciaram em 1999 e que até agora não foi detectada qualquer doença relacionada com a eventual exposição a radiações de urânio empobrecido.

 De acordo com fontes próximas do Ministério da Defesa alemão, quinze locais controlados pelo Bundeswehr (o Exército da Alemanha) no sul do Kosovo estão supostamente contaminados por radioactividade.

 A AFP refere, por outro lado, que foi diagnosticado cancro em militares belgas que operaram naquele teatro de guerra. O que levou já o ministro da Defesa belga a pedir a ajuda da União Europeia. André Flahaut escreveu ao seu homólogo sueco, Bjrn von Sydow, já que Estocolmo preside aos destinos da UE a partir de Janeiro, e propôs que os Quinze analisem em conjunto os problemas de saúde dos militares que serviram na ex-Jugoslávia.

 Vários países, incluindo Portugal, decidiram fazer o rastreio médico dos soldados. O Ministério da Defesa Nacional ainda não decidiu quando é que os exames terão início, mas definiu que se tratará de exames ao sangue, à urina e às fezes. Ontem, o primeiro-ministro António Guterres disse aos jornalistas pretender o "apuramento da verdade" sobre este assunto.

 A decisão de examinar os 900 militares portugueses que prestaram e ainda prestam serviço no Kosovo foi tomada depois da família do primeiro-cabo Hugo Paulino ter denunciado que este terá morrido vítima das radiações de urânio empobrecido. O Governo nega e o relatório da autópsia, que a família considera incompleto, sustenta que a causa da morte foi uma encefalite.

 A polémica atingiu tais contornos que o chefe de Estado-Maior do Exército acusou interesses jugoslavos nesta questão, apontando mesmo o embaixador da Jugoslávia em Lisboa como principal agente. "Basta lembrar-nos da liberdade de acção do embaixador da Jusgoslávia no momento dos ataques aéreos ao Kosovo - tinha mais tempo de antena em Portugal que toda a NATO e que todo o poder político ou militar - para vermos que há realmente uma inversão nestas coisas", afirmou Martins Barrento.

 O embaixador Danilo Vucetic negou ontem qualquer relação entre a Jugoslávia e o pai de Hugo Paulino. "Nunca contactei o senhor, tomei conhecimento do caso pela imprensa."

 O Exército colocou à disposição do pai de Hugo Paulino todos os meios. Este decidiu, para já, pedir a divulgação pública do historial clínico diário do filho, nas três semanas que esteve internado no Hospital Militar de Lisboa.

 * Com a AFP e Lusa